quarta-feira, 29 de julho de 2009

ELEVADOR.


No Princípio houve o susto. Depois veio a dúvida acompanhada

do medo. Nessa hora a dona claustrofobia soltou seus soldados sanguíneos desembestados pelas veias jecais, na querência de disparar o coração e preparar os músculos pra a iminente fuga (no caso, impraticável, mas vai explicar isso pros instintos evolutivos...)


Primeiro pensamento:


"-Não, a energia não acabou comigo no elevador". Insiste nisso por uns 30 segundos. Constata, então, que o ar começava a faltar (o primeiro e mais forte sintoma da fobia), senta-se na cadeirinha de ascensorista (estava só no elevador) na tentativa de diminuir a altura manométrica de bombeamento do sangue para o cérebro, evitar possível perda de consciência e manter a escassa capacidade cognitiva intacta (o anjinho da engenharia falando no ouvido). Apalpa botões até descobrir o alarme, mas Murphy se reviraria no túmulo se o botão realmente funcionasse, seria anti-natural!! Não, o alarme não tem nenhuma fonte de energia extra, logo não funciona em situação de falta de luz (curiosamente, a responsável pela maioria das paradas de elevador.)


A segunda onda de pânico veio sem avisar, todos os pensamentos pessimistas recomeçaram, dessa vez mais fortes, mas o único sintoma notado foi o coração disparando num ritmo incessante. Após os 5 primeiros minutos de uns gritos de ajuda (másculos, diga-se, nada de histeria), a primeira resposta de um ser vivente conteve a crise que se apossava d'O Claustrófobo. Palavras como "está vindo...manutenção...chave especial..." fizeram o desejável efeito placebo.


Mas o Dotô Murphy em júbilo se encontrava, onde quer que estivesse, uma vez que o jeca, na véspera de outra leva de pânico, apalpa o bolso em busca daquele aparelho que usa para verificar as ligações não lidas(celular?), constata que o mesmo não se encontra ali, impedindo qualquer contato decente com o meio externo.


Aos 15 minutos de detenção e descobre a função luminosa do relógio de pulso, descobre que não está cego. Reanimado com a fonte de luz, resolve usá-la para encontrar um ponto de apoio para empurrar a porta interna e, ao conseguir, constata-se defronte a um paredão, mas há uma fresta para o andar de baixo, que poderia ser usada, desde que ele consiga abrir porta externa, o que naturalmente não foi possível.


Passos e conversas são audíveis agora, com a porta interna aberta:


"Eita hein!", diz o senhor para um colega, "dessa vez foram 3 transformadores queimados na rua, acho que em menos de 5 horas a CEMIG não conserta isso). "


Decide então cantarolar sozinho e evitar ouvir qualquer outra conversa. Pessoas passam e dão batidinhas no pedaço visível da porta externa, ele responde e pede notícias...nada da manutenção. Passa a brincar com o cronômetro, tentando acertar com precisão de 1 em 1 segundo. Não conseguiu acertar no 1seg exato, mas obteve em num impressionante 1seg e 3 centésimos por duas vezes. Repete o processo para minutos, contanto 60segundos mentais e apertando o botão do relógio, nota que tem boa noção de tempo, acerta marcas em torno de 58s, 62s...


Mais passos, barulho de ferramentas e vozes, agora alteadas: Porteiro: "-Porra meu, 40minutos pra chegarem aqui? vocês já estavam no prédio, que merda foi essa?" O rapaz responde que passou por ali e deu uma batidinha na porta e que ninguém respondeu...por isso passou para os outros andares onde provavelmente havia pessoas a serem resgatadas.


Esvai-se de súbito a calma matuta e, de dentro do elevador, antes mesmo de esperar a porta se abrir:


"-Aaah, quer dizer que se houvesse alguém inconsciente e preso no elevador vocês mandariam chamar um médium pra baixar a resposta? E só depois de constatar que havia mesmo um espírito preso, ce ia resolver abrir a porta? Tem mais, trocentas pessoas bateram nessa porta e eu respondi trocentase duas vezes, só parei quando já tava rouco depois de meia hora gritando! Putaqueopariu!... " e aproveitou para relembrar anos de palavras de baixo calão acumuladas e há muito sem uso que aprendera em sua adolescência, além das mais recentes e variadas, cujo ex-chefe lhe legara.


Após ameaças de processo do capiau irado, pedidos de desculpa aceitos, o jeca (de volta à inabalável calma matuta) volta para seu andar, de escada, senta-se em sua mesa e tenta trabalhar, dá aquela olhada psicológica pra claustrofobia:


-Uai!!Pensando bem, hoje cê perdeu, preibóia!


G. Borges

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Pequenências


Pequenências.


A dor do mundo partido
dobrado é o doído
se não é nosso
o universo quebrado

antes, aqui havia
um peito
jaz moído em trituração angustiada

autonojo, meu ônlico desgosto.
ônlicamente meu.
e jaz no breu a luz
antes havida nesse poço

olhos secos sempre estado
por exceçã-mór hoje aguosos
tão!! que nem o Velho Chico
em vasto leito me caberia

pela perda escolhida
dum mundo quebrado
que não é o meu
pela dor duma partida

mas me espremeu
exponência de dor.
eia! a incompetência!
de nem a raiva causar.

22-07-09 23:33

sábado, 18 de julho de 2009

A Pouca Fala


(Matuto - por Angelica Schmitz)

A Pouca Fala.


há, toda vez

bitela dum esforço

sempre há

a vontadezã, e também a causa

a explicação do silêncio capiau.

ei-la (ou alguma parte dela):


a voz ausente, muita dela

fruto é, não só da costumeira matutância

senão duma querência tenaz

de dizer o certo verdadeiro


o bruto silêncio

espera, só, ser rompido

quando dentro duma casca,

sair palavra essência, ou maior.


escura falta de som

acompanha o bom matuto, muita vez.

inda sim, os pontinhos brilhantes saem

quando em vez

e há quem veja Vênus como estrelinha colorida


pequenos buracos branco-prateados são

trechos de verdadezinhas

que se dão à luz.

palavras sertanejas...


G. Borges

quinta-feira, 16 de julho de 2009

TRAGICOMÉDIAS CAPIALESCAS


Ato II - Bandolins


O Partido da Razão

deposto

irrequieto arma ardis sigilosos


Nas ruas esburacadas

a massa retumba num grito gutural

- Emoção! emoção! emoção!


Abaixado no meio do tiroteio

matutamente ele tira seu chapéu

-a palha seca cravejada de furos-

e olha pra dentro

(de si)

se vê escorrendo.


é chão esfarelando

é noite que desentermina

é a mosca des-alada

é o arraste da cascavel ferida


é a dor de quem acorda

no meio dum sonho

de ar mais pesado que leite

é um querer correr,

e o passo não vir!


a câmera é lenta

mas o tempo não parou.


G. Borges

terça-feira, 14 de julho de 2009

TRAGICOMÉDIAS CAPIALESCAS

Antes de prosseguir com as bubiças costumeiras que ainda me restam
guardadas, resolvi dividí-las em partes, já que achei o formato dos textos
estavam saindo do padrão(?) dos últimos posts.


ATO I - O Ensaio


Eis que há uma revolução ali dentro
motins desordenados
capitaneados por velhos palhaços
velhacos que só

Seu conta gotas
que sempre funcionou
seu dosador de instintos
pinga pinga de emoção
enchendo sem turbulência
a cabaça dentro do peito

cortaram seu conta gotas!
fluxos fluidos desordenados
atrozes escapamentos sensitivos
é trem pipocando de todo lado!

...desordenadamente se aperta
espreme corpo
quer caber no fluxo...

12/07/2009 12:47

G. Borges

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A represa

Mais 48horas, só mais 48horas e me vejo livre e pronto pra curtir minhas semi-férias.
Um semestre de faculdade às vezes me custa 1 ano de vida...Mecânica dos fluidos, resistencia dos materiais, bioengenharia...quanta coisa bonita num só ano. Mais duas materiaszinhas e aquele trabalhinho acoxambrado de fim de semestre, dai corro pra cerva mais próxima.
Detalhe pra tópico da ultima matéria da ultima e mais fodelante prova do semestre, a de amanhã: "Trabalho Virtual". E eu que sempre quis algo assim...

Curiosamente, um fim de semana lotado de farras amigais me fará recuperar esse tempo perdido. Espero.

Proveitando que a bregueza não me abandonou, mais uma do mês retrasado me sai por aqui.


A Represa

Ela ali nadou
me danou a paz todinha
fingiu que nada tinha
a ver com isso tudo

do rio desenxerguei
das margens velhacas
mais não sei

rio que não acaba
desenxerga-se dele

ela ali nadou
de soslaio olhou danada
danou-me o mundo
numa olhada
só.

Vagamunda.
vaga a mente
vã demente
displicente
chuva de letras
palavras tontas de nexo
perplexei-me dali
choveu sem meio
sem começo
definhei

hein?


G. Borges

sábado, 4 de julho de 2009

Seção Ói de Peroba Extra-Plus Advanced.


Douze dúvidas.


Das vozes q'eu escuto ali

nenhum zumzum de tino

é tudo nebulosamente

cabulouso


halegrias estranhas hesistem?

se joleza há , nada devia me estranhar

mas do medo eu nem falo.

bem quis...

bem quis

tudo muito perigouso é,

às vêz.


ah!! Dotô Paulo, O de Tarso,

pros coríntios cê disse bonito:

"Quando menino,

falava como menino..."

Me falta a continuança

que na travessia é que parei.

É tanto mar!


G. Borges