sábado, 29 de agosto de 2009

AROU?

Para uma dotora que irá passar o fds ouvindo cornomusic(por que quer, né?), nada melhor(no sentido pior) do que uma escrita "Dôr-de-cotÓvelos" style. E assim creio que encerro o momento falso-poetero 2009.


Aroma.


num sei se o gosto que guardo
numa gaveta pensante do peito
soante tão largada estava
é teu

mas bem desconfio.

Se da pele saem faíscas sem rumo
pousam sãs e salvas
na calma bruta do ser capialesco
que, de labuta e ócio, ciente fez-se

há de, aqui braços que esperam atentos
sinal pequeno de desamparo
ou luz maior de desejância
lampejos quaisquer

esperam sim, descalmamente
envoltar inteiros teu pequeno ser
neles te aderir de proteções e gosto
deles criar tua cabana

Ao que sento espero
Desatento trilho a senda
Errosa árvore retorcida.

29/08/09 2:10

quinta-feira, 20 de agosto de 2009


(Do chão torrado-chamuscado vem a cor. Eis o cerrado)

D'O Fogo em Flor

(Traduzido do jequês arcaico)


Teria meu lembrete dela

cor de fruta?

cheiro de furta cor

ah! sim.

Lembro.


acerto-lhe olhos de lado

zanzando juízos

que mais num tenho

mal'espio seu cheiro amarelipê

desembesto em roda pensante.


A cabeça própria-minha sem freio

é desandante:


É rolimã descendo barranco

É carreira de fugitivo de onça

em penumbra do Gerais.


G. Borges 20-08-09 13:54


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

DESABAFO.

A vergonha que tenho, não é das noites de cachaça, nem das besteiras desmedidas ditas - lucidamente ou não. A vergonha mais doída é aquela da cautela e preocupação, das atitutes comedidas, das vezes que me desgastei para não assustar, enfim, da boçais ingenuidades que acabo cometendo, ao tentar colocar minha bruta franqueza jecal de lado.


Coloco sempre uma pedra nas mãos (escondidas às costas esperando para atacar) cada vez que ouço o início de alguma fala preconceituosa ou uma difamação gratuita. Não preciso de esforço pra enxergar o lado positivo das coisas-pessoas, é um negócio estranhamente natural para o jeca que cá escreve. De forma que, quando percebo, muitas vezes o chão já sumiu e tomei 'otro capote num' poço qualquer, e de volta vem a vergonha por tudo que havia sido feito com tanto cuidado para não ''ferir'' a inocência alheia.


Engraçado como algumas pessoas não se satisfazem com as contumazes mentiras que livram a pele, que podem até, em certas situações de 'perigo iminente', render tempo e evitar o 'desandamento do trem todo'. Nesses casos, o que provavelmente aconteceria seria a verdade (ou boa parte dela) acabar aparecendo, mas num momento talvez mais oportuno. A essência (ou o que se defina como o mais próximo da verdade factual) é quase inescondível.


Há aqueles(as), contudo, que decidem usar de pequenas e sistemáticas mentiras para produzir talvez um polimento contínuo em suas imagens pessoais. O que não notam é que dificilmente alguma das desverdades realmente fará o efeito desejado e, se por um lado não causarem nenhum problema para os mentirosos, tampouco surtirão algum efeito realmente positivo nos 'trouxas-que-acreditarem'; quase sempre passarão desapercebidas ou notadas muito vagamente pelos crentes em questão. Se omitidas fossem essas inverdades elogiosas, tudo teria sido muito melhor, e o(a) criador(a) das mentiras não seria menos admirado por não ter cometido todas aquelas proezas, ou por não ter todas aquelas virtudes alardeadas.


Enfim, se há uma utilidade para essas específicas mentiras, é a de - num certo momento- serem descobertas e fazerem o 'crédulo' ouvinte sentir tamanha vergonha e nojo de si, a ponto de aplicar-se um belo banho na alma e aprender alguns anos de lições em poucos dias.


Eu.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Livro dos Matos


(Manuel Nardi - O Manuelzão.)


No princípio, havia a dúvida


fim não houve,

desde então.


Fez-se, contudo

o medo ao tempo do meio

O irmão da coragem

alado presságio da pergunta

preciosa e selvagem seiva

imortal questã.


e a palavra nasceu

e do breu, em seguida, a Luz.


G. Borges

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

DES-VERDADES.


Se por ocaso dentro de ti
parte boa ainda houver
mesmo morta por covardes
e pequenas mentiras
use-a de novo, ali
se algum gosto lhe couber.

Que d'eu mesmo
bem sei no breu regenerar-me

Minha ferida honesta é

De juiz-dotô não apeteço fingir-me
Nem guardo o de falar
Sobreponho apenas minha pena
Por tuas tã pequenas
Desnecessárias desverdades.

Desnascidas deveriam-de.


G. Borges